"Um teste é só uma fotografia, não o filme todo. O Eneagrama não te rotula, ele convida-te para um caminho de maior consciência."
- António Lontro
3 erros comuns a evitar quando se faz um teste de personalidade eneagrama
Os testes de personalidade estão por todo o lado, seja em revistas, nas redes sociais e em sites que prometem revelar “quem és de verdade” em apenas cinco minutos. É normal sentires curiosidade pois todos queremos compreender melhor o nosso funcionamento.
Mas, há um ponto essencial: um teste é uma fotografia, não o filme todo.
No eneagrama, isto é ainda mais relevante porque o modelo não descreve apenas comportamentos; ele aponta para motivações, medos e desejos que estão por de trás do que fazes. E comportamentos semelhantes podem nascer de motivações muito diferentes.
O problema não é o teste, é como o usamos
Por isso, vamos olhar para três erros muito comuns quando alguém faz um teste — e como os evitar de forma simples e prática.
Erro 1. Responder com o “eu ideal”
Este é o clássico. Em vez de responderes ao que costumas fazer, respondes ao que admiras ou achas que “devias” fazer. É o viés da desejabilidade social a trabalhar.
Porque distorce no Eneagrama?
O modelo procura a intenção por detrás do comportamento.
“Ajudar muito” pode nascer de querer ser visto como indispensável, de evitar a intrusão e preservar a energia, ou de procurar segurança através da competência. O comportamento é o mesmo, a raiz é que não.
Exemplo: “Sou uma pessoa muito disponível.” — Pergunta-chave: Sou disponível porque quero cuidar? Porque temo ser rejeitado(a)? Ou porque quero ser reconhecido(a) como competente? A resposta muda tudo.
Dica prática: responde com base nos últimos 3 a 5 anos, não em episódios soltos. Se uma pergunta te puxa para o “eu ideal”, pára e questiona-te: “O que faço quando ninguém está a ver?”
Mini-exercício (2 minutos): escolhe três pessoas de contextos diferentes (um amigo, um colega, um familiar) e pergunta-lhes: “Quando penso em mim como [adjetivo X], isto é algo que faço mesmo ou que digo que faço?” Usa as respostas para calibrar.
Erro 2. Ignorar o contexto emocional e situacional
O teu estado do dia (p.e.: cansaço, stress, euforia) e os papéis que desempenhas (trabalho, família, comunidade) podem enviesar as tuas respostas.
Porque distorce no Eneagrama?
Ele aponta para as tendências estáveis ao longo da vida. Estados agudos — burnout, luto, uma promoção, o início de parentalidade, etc… — podem ativar estratégias temporárias que mascaram o padrão base.
Além disso, cada pessoa regula a vida a partir de um centro dominante (corpo, coração ou cabeça). Em stress, cada centro reage de uma forma típica (impulsão, fusão/evitação, hiper-análise), o que pode afetar as escolhas no teste.
Exemplo: Se estás em pico de stress, podes assinalar frases como “controlo tudo e não peço ajuda”. Noutras fases, reconheces que isso não é o teu normal, ou seja, foi a resposta do teu sistema ao contexto.
Dica prática: antes de começares, faz uma pausa de 60 segundos — respira, nota como está o teu corpo e dá um nome à emoção dominante. Depois responde pensando no teu padrão médio, não no “eu de hoje”.
Pergunta-filtro: “Isto descreve-me na maioria das vezes, ao longo de anos, ou apenas nesta fase?”
Erro 3. Tomar o resultado como definitivo
É tentador fazer “match” com um número e fechar o assunto. Mas esse é o erro mais limitador.
Porque atrapalha no eneagrama?
O teste dá-te hipóteses de Tipo, não veredictos. Assim sendo, descobrirmos o nosso Tipo implica três coisas:
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- leitura cuidada das motivações (desejo e medo base);
- observação de padrões em stress e em segurança (as “linhas de movimento” — tendências, não sentenças);
- validação com subtipos instintivos (auto-preservação, social, sexual), que mudam a “cor” do tipo.
Pensa no teste como um gps que aponta os caminhos prováveis. Tu ainda decides se viras à esquerda, confirmas a estrada e ajustas o caminho se houver obras.
Dica prática (checklist de validação):
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- O que me dói perder? (pista para o medo central)
- O que busco quase sem pensar? (pista para o desejo)
- Como reajo quando me sinto pressionado(a)? (padrão em stress)
- Quando me sinto em paz e apoiado(a), o que muda em mim? (padrão em segurança)
- Que variante instintiva descreve melhor as minhas prioridades automáticas? (casa? estatuto? intensidade?)
Mini-passo de resiliência: mantém um diário de auto-observação durante 10 dias. Duas linhas por dia: “Situação — o que fiz — o que temia perder — o que procurava garantir.” Vais ver padrões claros a emergir.
Como usar o teste de eneagrama para desenvolver a tua resiliência
O objetivo não é “colecionar tipos”, mas ganhar mais flexibilidade psicológica. O Eneagrama ajuda-te porque te mostra a lógica emocional por trás das tuas escolhas e o que te prende nelas.
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- Nomeia o gatilho do teu (possível) tipo. Ex.: medo de ser inútil, de falhar, de estar em falta, de perder ligação, de perder autonomia…
- Escolhe um micro-hábito antídoto que treine o ‘músculo’ oposto. Ex.: pedir feedback específico (em vez de assumir), pausar antes de decidir (em vez de controlar), dizer não curto e claro (em vez de agradar), sentir o corpo 30 segundos (em vez de ruminar).
- Observa as tuas linhas de movimento. Em stress, nota qual o “modo automático” se acende; em segurança, o que se amplia de bom em ti. Usa isto como um radar preventivo, não como etiqueta.
- Nomeia o gatilho do teu (possível) tipo. Ex.: medo de ser inútil, de falhar, de estar em falta, de perder ligação, de perder autonomia…
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Um resumo operacional: Teste → hipóteses → observação → ajustes → mais autocontrolo e menos piloto automático. Isto é pura resiliência aplicada.
Antes do próximo teste, lembra-te disto
Da próxima vez que fizeres um teste de eneagrama, evita estes três erros pois são os que mais distorcem o resultado:
- Responder como gostarias de ser, em vez de como realmente és.
- Deixar que o teu estado emocional do momento dite as tuas respostas.
- Tratar o resultado como uma verdade absoluta.
Usa o teste como bússola, não como destino.
Um convite
Se ainda não fizeste, experimenta este teste gratuito e descobre qual o tipo de personalidade que mais se aproxima de ti.
Depois visita a página sobre os 9 tipos de personalidade Eneagrama e lê devagar, procurando as motivações (não apenas os comportamentos). Observa-te durante a semana e volta às descrições. Podes inclusive comparar com os outros Tipos para ver as suas diferenças.
No próximo artigo vamos entrar no terreno: como a resiliência se expressa em cada tipo, quais os gatilhos típicos em stress e que micro-hábitos realmente movem a agulha.
Lembra-te: o valor do Eneagrama não está no número que te identifica, mas no caminho de consciência que ele abre para viveres com mais liberdade, presença e coragem.